Despedidas

Quem me conhece sabe que sou apaixonada por cachorros. Por toda minha vida sempre tive um por perto, e com cada um tive experiencias significativas.
O primeiro foi o Cheiroso, um legítimo vira-lata preto. Lembro-me dele já velhinho, barba branca, rs
O Cheiroso era mestre em se esconder dentro do carro do meu pai. Mania esta que fez o meu pai voltar duas vezes para casa por só notá-lo na parte de trás (dormindo no assoalho), quando já havia chegado ao trabalho.
Eu quando pequena adorava acompanhar minha mãe e minha avó à feira, tudo bem que com terceiras intenções, coxinha e panelinhas de brinquedos. Mas, num sábado minha mãe ficou com dó de me acordar cedo e não me chamou. Acordei, corri a casa toda e nada delas. Portas trancadas, não pensei duas vezes, pulei a janela do meu quarto e fiquei com o Cheiroso sentada na calçada, de pijamas, esperando por elas. Eu e o Cheiroso.
Mas um dia ao chegar em casa ele não apareceu, meu pai disse-me que como ele estava velhinho resolveu ir embora.
Tempos depois descobri que naquele dia ele não acordou e, que daquele montinho de terra do fundo do quintal não iria sair milho algum.
O Rex, chegou numa caixa de papelão trazida por meu irmão. Bonitão, este segundo meu pai era "tomba-lata", pois era mestiço, vira-lata com pastor alemão.
Meio caramelo, meio malhado e rabo cotó, brincalhão, parecia sorrir com os olhos. Este, conquistou até a minha mãe.
Cachorro inteligente , sossegado. Quando eu e minha mãe ficamos morando no sitio, ele ficou conosco. E todo dia quando eu seguia para e escola ele nos acompanhava até a divisa. Incrível, eu sabia, meus amigos também, mas como ELE, sabia que ali terminava o nosso sitio? Ficava ali parado só olhando enquanto seguiamos. E, para lascar tudo de vez, na volta lá estava ele a nos esperar no mesmo lugar.
Pouco tempo depois, meu avô, também foi morar conosco. E o Vô Joaquim sempre foi doido por bichinhos, logo se apegou ao Rex.
Voltamos para cidade, e minha mãe não teve coragem de separar os dois.
Mas, toda vez que íamos para lá o danado ia de encontro conosco. Era o nosso recepcionista. Todo serelepe, rindo do jeito dele.
Segundo o Vô, morreu de tristeza, pois anos mais tarde o Vô Joaquim, ganhou mais cachorrinho, um Fox Paulistinha, e os dois ficaram amigos, mas o Fox, morreu, e o Rex foi logo em seguida.
Aí aparece o Theófilo, Théo. Um puríssimo Poodle Toy, com pedigree e o escambal. No entanto, nunca vi cachorro mais sem vergonha, noção ou qualquer coisa que o valha!
Ao falamor de poodle já logo imaginamos aqueles cachorrinhos de madame, quietinho, no colo do dono, todo cheio de fru-fru. O Théo? Que nada! Vira-lata de alma, sarna brava. Sem parada, rueiro, bagunceiro, chato até. Ah, e como todo baixinho envocado!
Ao chegar na minha mãe reparo o silêncio logo na entrada, pois o Théo vale por dez campanhias. Mas como é noite, tempo meio chuvoso, frio. Penso que o cachorro também não é obrigado a fazer hora extra.
No dia seguinte minha irmã me acorda dizendo que o Théo tá nas últimas. Pois é, o povo lá de casa tem a sutileza de um elefante.
Veterinário, no domingo, em Mogi!
Encontramos. O parrudinho apesar do estado em que se encontrava não queria que o depilassem para o exame de sangue! Machinho até o fim, rsrs
Ele no alto de seus 92 anos sofreu um derrame, está com catarata e ficará com sequelas.
Seus remédios agora estão lado a lado com os do me pai.
Meu pai: - Agora é um velhinho cuidando do outro!
Não sei se o encontrarei numa próxima vez.
Mas ainda rio ao lembrá-lo com bigode chinês e topete moicano.

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